Depois de tanto tempo de espera, eis o primeiro dia de trabalho! Os novos elementos foram distribuídos e o meu grupo ficou ao cargo do Zé, um homem alto, bem parecido, com uma camisa irrepreensivelmente engomada, umas botas às quais nos poderíamos ver ao espelho, um tom de voz suave e uma forma de falar extremamente polida e educada, cumprimentou-nos de forma a que cada um se sentisse o centro do mundo naquele instante e lá fomos, recebendo indicações e comentários sobre como era o serviço... e estávamos com sorte, iríamos fazer a fiscalização de um piquenique!
O Zé saiu do jipe e foi seguido de perto por dois elementos "dos novos", o responsável pela organização do piquenique era o padre de uma paróquia próxima... após apresentar-se, apresentou os colegas que o acompanhavam, diz o organizador:
- Eu sou o padre da paróquia de São Domingos, não sei se conhece...
- Conheço perfeitamente... - disse anuindo e sorrindo o Zé, o padre ficou por momentos sem proferir palavra como quem pensa "eis uma ovelha que não se perdeu...", o Zé prosseguiu no seu registo eloquente a conversa de forma a fiscalizar o piquenique, despediu-se de seguida do pároco e encaminhou-se de volta ao jipe enquanto nos mostrava a folha da fiscalização que havia acabado de preencher com uma letra perfeitamente pautada. Entrámos para o jipe, fechou a porta e acenou ao pároco sorrindo, enquanto dizia entre-dentes mas mantendo o tom de voz inalterado...
- Arranca... arranca! Que o padre já 'tava a galar os putos novos!
E assim conheci o Zé, o "padre" que conseguiu fazer o verdadeiro padre ficar sem palavras durante uma conversa de breves minutos, e que, nos ofereceu uma barrigada de gargalhadas dentro do carro com um humor venenoso, é certo, mas oportunista... ainda não há muito, estive a trabalhar com ele, estava cheio de preocupações e projectos para o futuro, e nada poderia fazer prever um desfecho destes, muito menos, um tão violento.
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