Com esta conversa encapotada da austeridade, vieram os cortes no
ordenado, todos os meses religiosamente me foi subtraido no recibo de
vencimento cerca de 70 euros porque "alguém" meteu na cabeça que eu era
rico...
Como ainda assim algum bípede deste país me considera
rico, fizeram o favor de programar um corte substancial no subsídio de
natal, algo ligeiramente acima de uma quarta parte desse subsídio vai
ficar para o estado...
Ainda não achando que tinha baixado da
classe dos ricos, algum outro mamífero decidiu que para o ano não
deveria receber subsídio de férias ou de natal...
Como mesmo assim
ainda não eram cumpridas todas as obrigações do estado para com a
troika, para com a união europeia e para com a chanceler alemã e aquele
françiu complexado, o meu empregador decidiu que deveria haver um corte
radical para manter o "empresa" sem se afundar, e como tal, cortaram o
trabalho extra...
Muito rapidamente houve quem começasse a fazer
contas, e o resultado era na maioria dos funcionários, francamente mau,
as despesas suplantavam as receitas mensais... é a vida de quem, do nada
e sem aviso, fica sem um terço do ordenado...
Todos estes
factores são maus, mas a situação que mais me irrita é... e fazer alguma
coisa para contrapor tudo isto? Alguém? Nada? Pois... de esperar, como é
costume do povo Português, é levar na noz e continuar a sorrir, até vir
outra medida rebenta bilhas e o resultado é encher e continuar a andar.
Este último corte que referi leva-me a ponderar "alienar património"
para reduzir a despesa e receber algum retorno monetário porque,
mensalmente vou ter um saldo negativo de cerca de duzentos euros...
falaram de greves durante o trabalho hoje, e quando disse que devíamos
ir para o local de trabalho, picar o ponto e não mexer uma palha, porque
assim dói mais ao patrão - Ah e tal, mas não se pode fazer isso! Isso é
uma greve de zelo e não se pode fazer. - foi a gota de água para
começar a apontar os disparates das greves às sextas-feiras, as
mobilizações/manifestações falhadas e as tristes intervenções de um
sindicato que, por três vezes, em vez de me defender, me tentou
prejudicar na carreira! Estava capaz de ir para a porta da minha "entidade patronal", chamar a comunicação social e esperar que chegassem para me verem com os bolsos virados do avesso e sem nada deles cair! E nada, nenhuma reacção...
Isto deixou-me profunda e realmente irritado... e saí da sala... para mais tarde perceber a razão da apatia desta gente mais velha... conclusão: eles não precisam!
Os
mais novos pagam prestações de casa, prestações de carro, combustíveis
que gastam para ir para o trabalho, pagam a refeição no refeitório... os mais velhos
têm casa dada pelos serviços (poupam pelo menos 300€), tem transporte
assegurado de casa para o trabalho e do trabalho para casa com os
veículos e o gasóleo da casa (menos, pelo menos, 150€), já que têm transporte, aproveitam para fazer as refeições em casa (e nisso devem conseguir poupar uns 50€)... se eu tivesse mais 500€ dados de mão beijada pela minha entidade patronal, nem sequer me ralava com a austeridade!
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